Thursday, January 7, 2016

A MENINA E A ESTRELA


Era uma vez uma menina que vivia numa casa entre a floresta e o mar.
Ao longe via-se uma alta montanha que parecia tocar no céu.

Um dia a menina decidiu sair de casa e pôr-se a caminho por uma estreita ponte, muito fina, entre a floresta e o mar.

Caminhou, caminhou, dia e noite, noite e dia, com cuidado para não se perder na floresta, onde havia animais perigosos e não cair no mar, onde morreria afogada.

Chegou ao sopé da montanha, levantou a cabeça e viu que era tão alta que certamente não seria fácil chegar lá cima, onde brilhavam as estrelas.
Mas não desistiu do seu caminho.

Passou uma noite, dormiu ao relento estendida no chão, passou um dia, caminhou sem comer, nem beber, e assim foi andando.

A meio desta subida, de muitas noites e muitos dias, a menina deixara de ser menina e passara a ser mulher.
Mas não mudara de ideia: chegar ao cimo da montanha, tão alta que parecia tocar no céu.

Agora havia pequenos arbustos e ela podia comer os frutos; e entre as pedras escorriam fios de água e ela podia matar a sede.

À noite, antes de adormecer, deitada no chão, olhava para o céu escuro, e ia contando as estrelas.
Tanto brilho, pensava, na minha antiga casa não havia nada disto....

Até que chegou ao cimo da montanha.
Um pico estreito como uma agulha, com pequenos degraus de gelo para poder subir.
Um gelo que era espelhado, uma luz que se entrevia.
Sem medo, pois a menina agora mulher não tinha medo de nada, foi subindo guiada por essa luz.

E já mesmo no fim dos degraus todos, mesmo no fim, lá estava a estrela maior, que ela, de sua casa, não poderia ver.

Esta é a minha estrela, esta é a minha casa, é aqui que vou morar.
Nessa noite deitou-se, feliz, sob o imenso brilho.

A menina-mulher, percorrido tanto caminho, envelhecera  sem dar por isso.
Morreu antes de adormecer.

Y.K.Centeno
Lisboa, 7 de Janeiro, 2016

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