A tentativa, que ficou incompleta, de um Terceiro Manifesto do Surrealismo, mostra como é difícil, na arte ou no exercício da Escrita Criativa, manter um modelo ideológico de enquadramento teórico, fechado, como Breton preconizava de início.
A arte é livre, só em liberdade poderia evoluir.
Ora esses mesmos, praticantes do cadavre-exquis, forma tão inovadora e tão provocadora de dar voz ao inconsciente a várias mãos, como poderiam aceitar que a sua produção, de maior ou menor originalidade, conforme os casos (nem todos seriam génios, como dizia Salvador Dali, que cortou com o grupo) se orientasse mais para a transmissão de lições políticas do que para a fruição máxima do Belo na arte que era a sua?
Eles, os libertadores por excelência na área do Modernismo?
A intervenção política tivera o seu momento, com o Expressionismo, com o Futurismo - aliás de posições ideológicas opostas: os primeiros defendendo o marxismo, os últimos, como no caso de Marinetti, não recusando o fascismo.
Suspensa a ideia de um terceiro manifesto que pudesse ser inovador, e mais útil do que os outros, recuperou-se a sonhadora alegria de um imaginário onírico puro, dando origem a poemas, a novelas, a desenhos e pinturas de que entre nós ainda Artur do Cruzeiro Seixas, felizmente vivo, dá testemunho.
Já de resto, noutro campo, Fernando Pessoa e Cia. não tinham conseguido levar a bom termo o n.3 de Orpheu.
Entre algum Simbolismo já descrente de si mesmo, passando para um exercício que se poderia dizer, em alguns, como Fernando Pessoa ou Augusto Ferreira Gomes de "escrita automática", a teoria fundadora (fosse a sensacionista, a futurista ou outra) falhara, como acabam por falhar todas as teorias.
Não usemos esse termo: falhar, digamos esgotar.
As teorias esgotam-se, pelo facto de o serem.
Só a inspiração permanece, e só os dotados dessa forma de génio progridem no seu caminho.
O que fazem?
No caso da escrita, escrevem.
A inspiração, chegado o momento, não faltará.
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