Uma das perguntas mais frequentes é :
como se escreve (um romance, um poema, uma peça de teatro) ?Quero escrever e não sei como.
A resposta mais rápida, mais sensata e mais útil será: escreve-se escrevendo.
Haverá alguns requisitos básicos, não o nego: conhecer bem a língua em que se escreve.
Para se conhecer bem a nossa língua temos de ter:
um vocabulário alargado
conhecimentos de gramática
uma boa capacidade de articulação do pensamento,
que levará a uma boa capacidade de expressão, de comunicação.
É da capacidade de expressão que falamos quando falamos de criatividade na escrita.
Como em tudo, também na escrita a experiência ajuda a que se aprofundem as ideias e os temas que se desejem tratar.
Dessa experiência fará parte, necessariamente, a leitura.
O meu conselho é que se leia: se leia muito, se leia tudo, de preferência a produção de grandes autores da esfera universal, mas também a literatura dita menor é boa de se ler, se não houver mais nada.
Lembro-me de ler, aos dez-onze anos, todos os livros policiais que existiam em casa dos tios com quem passava férias de Verão (outrora eram grandes...) e todos os policiais que o meu pai comprava nas edições originais em inglês, fazendo com que eu rapidamente dominasse essa língua.
Ainda hoje leio policiais, são para mim formas de descansar o pensamento...
Também li novelas côr-de-rosa, revistas de quadradinhos, e isso enquanto, por exemplo (e já com doze anos) lia a obra de Júlio Dinis. Não posso dizer que a tenha apreciado muito, na altura, mas li.
Como fui lendo, ao longo dos anos, todos os grandes da nossa literatura, começando na lírica medieval e acabando como era o costume da época, com Eça de Queiroz.Isto nos anos de liceu. Ainda que não constassem dos programas oficiais, também li os neo-realistas e lá fui chegando devagar aos modernos e contemporâneos:
Pessoa (na voz de Ricardo Reis) e Sophia de Mello Breyner foram para mim aos dezassete-dezoito anos grandes revelações.
O resultado de se ler bons autores da nossa língua é que melhoramos e alargamos o domínio vocabular e as formas gramaticais, articulando bem as frases, declinando bem os verbos, respeitando a relação do sujeito com os complementos, etc.
A gramática ( a forma) não é tudo, mas é parte. Ainda que mais tarde a possamos destruir, na busca de um estilo que diremos outro, próprio.
Mas na arte, e a escrita é arte, é preciso construir para poder, criando, destruir.
Se existe o impulso da escrita? Existe, ou não se escreveria.
Sobre esse impulso se desenvolve depois o resto do trabalho.
Um estudante perguntou a Dostoiévski o que era preciso para escrever bem. Ao que ele respondeu: "- Sofrer, sofrer e sofrer." Bem, o sofrimento é uma grande inspiração. Infelizmente, diversas vezes maior do que as alegrias pontuais dessa nossa vida nesses tempos tão estranhos. Gostei bastante de sua escrita. Também sou leitora de Jung e vi seu antigo blog em que comentava sobre "Dat Rosa Mel Apibus". Parabéns!
ReplyDeleteCara Erica,
ReplyDeleteEis o lema do meu editor alemão:
besser lesen, besser leben;
traduzindo: ler melhor para viver melhor (entenda-se "ler melhor" como ler muito, ler mais, ler sempre...embora a vida não seja eterna!