Neste caso proponho que se reflicta sobre o Mito de Prometeu.
O MITO DE PROMETEU
O que o fogo permitiu:
afastar os animais perigosos dos espaços onde o grupo se
reunia;
iluminar as grutas e cavernas que foram os primeiros
refúgios;
aquecer esses espaços;
transitar para fora de espaços mais agrestes e erguer
outros, cabanas de madeira,
por ex. que os animais já não atacariam;
cozinhar os alimentos, o que ajudava à sua preservação;
nalguns casos, quando tal era o costume, incinerar os
cadáveres;
e mais:
forjar as armas, e quaisquer outros instrumentos de
utilidade prática;
derreter os metais e trabalhar ornamentos: colares,
pulseiras, broncos.
Dominar o fogo
era adquirir um poder que até então só se atribuía aos deuses:
nasce o mito de Prometeu que sera castigado por Zeus (deus
do relâmpago e do trovão).
Leia-se o poema de Goethe (trad. João Barrento)
Prometeu
Cobre o teu céu, ó Zeus,
De vapores de nuvens!
E ensaia, como um rapaz
Que decapita cardos,
As tuas artes em carvalhos e cumes!
A minha terra, essa
Tens de deixar-ma,
E a minha cabana,
que não construiste,
E o meu lume,
Cujo fogo
Me invejas.
….
Quando eu era criança,
Sem saber que pensar nem que fazer,
Voltava para o Sol os olhos
Perdidos, como se lá em cima houvesse
Um ouvido para o meu lamento,
Um coração como o meu
Para se compadecer dos oprimidos.
….
Eu, venerar-te, Para quê?
Aliviaste tu alguma vez
As dores dos que sofrem?
Alguma vez secaste as lágrimas
Dos angustiados?
E quem forjou em mim o Homem,
se não o Tempo todo poderoso
E o Destino eterno,
Senhores de ti e de mim?
….
Aqui estou eu, criando Homens
À minha imagem,
Uma estirpe igual a mim,
Que sofra e chore,
Goze e se alegre,
E não te respeite,
Como eu.
Neste poema Goethe, com
subtileza, descreve o caminhar do Homem que, da infância primordial ascende a
uma alta consciência de si mesmo – através do poder de emancipação que a descoberta do fogo lhe concedeu. Os deuses, ou
o dues lá do alto nada é, em nada ajuda o ser humano, e é um logro julgar que
através de oferendas a figuras inexistentes, vazias de sentido, alguma coisa do
destino humano se pode modificar.
Estamos no século XVIII, com os
Iluministas (cultores da Razão esclarecida) que fazem deste mito a sua
bandeira, o suporte da sua doutrna de emancipação.
É o século dos Enciclopedistas
franceses (Voltaire, Diderot, entre outros) e dos novos conceitos que estarão
na base da franco-maçonaria e da futura Revolução de 1789.
Este grito de revolta da alma –
que não deseja peias de espécie nenhuma, deseja ser livre e afirmar-se igual ao criador, despertará
sobretudo o entusiasmo dos Românticos do século XIX.
No antigo relato da origem do
mito Prometeu é descrito como tendo criado o primeiro homem a partir de um
bocado de argila misturado com água. Para não deixar a sua criatura
desprotegida rouba ao sol uma faúlha do seu fogo e de regresso à terra oferece
o fogo aos homens, que entretanto se tinham multiplicado.
Para se vingar, Zeus envia aos
mortais Pandora, com a sua caixa de malefícios, e quanto a Prometeu prende-o no
alto do monte Caucaso, onde durnte séculos uma águia viria comer-lhe o fígado,
que logo se refazia, causando-lhe um sofrimento sem fim. Mais tarde sera
perdoado, e é Hércules que mata a águia com uma das suas flechas.
Para a psicanálise do fogo, elemento por excelência de transformação e transmutação ( o chumbo em ouro, nos alquimistas….) ler Gaston Bachelard, A Psicanálise do Fogo, cap.VII, “o fogo idealizado”: fogo e pureza.
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