Não será um diário, muito menos uma autobiografia.
Serão talvez notas, pedaços, fragmentos, memórias que ficam pelo caminho.
Autobiografias há muitas, uma a mais ou a menos não faz diferença.
Mas caminhos e curvas de caminhos, talvez possam ter algum interesse: não para todos, mas para alguns...
Talvez então eu me disponha a começar. Veremos.
Havia ali aquela mulher. Abriu uma gaveta, que estava cheia de pó, não era limpa há anos.
Tirou-a da mesa de cabeceira, e limpou com cuidado o fundo, e a seguir, peça por peça, os objectos que se encontravam lá dentro: armação de óculos antigos, envelopes com análises variadas, fotos, muitas fotos, colarzinhos partidos, brinquedos de papier maché de quando os filhos eram pequenos e os traziam da escola.
Pôs tudo em cima da cama e ficou parada a olhar: guardava, deitava fora, escolhia as fotos para um álbum ou para algum caixilho mais bonito...
Não fez nada. Guardou tudo outra vez na gaveta. As suas fotos antigas já não eram ela, eram outra pessoa, que ela já nem se lembrava de ter sido.
Não fez nada.
Um dia alguém abriria a gaveta e ficaria como ela, a olhar.
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